30 de novembro de 2007

VITÓRIA

Há situações da vida- a maior parte delas- que não envolvem em si qualquer tipo de conflito, pelo que não podem ter vencidos nem vencedores. A vida é nesses mesmos momentos bem mais radical: gerar neles conflito e tentar vencê-los numa lógica de competição é meio caminho andado para que o seu essencial nos passe ao lado.

O essencial às vezes reduz-se à sensação do ar que nos penetra a traqueia e insufla os pulmões de forma gratuita. Assim sem que nada nos seja pedido que não seja fechar os olhos e deixar-se levar.

Este essencial torna-se tantas vezes tenebroso e doloroso... Que dizer dos momentos de luto, das roturas e de tantas perdas que nos assolam no nosso caminhar. Ainda assim, pouco há a fazer nestas situações que não seja abrir os braços e acolhe-las de verdade no nosso coração.

Tantas vezes, o único consolo que podemos alcançar e a única coisa que nos pode serenar a alma é derrotados enfrentarmos a vida e num sorriso desafiante, pedindo-lhe desculpa pela nossa insolência, abrir-lhe o nosso coração segredando-lhe ternos ao ouvido "Estou cansado! Mas como Te amo vida! Que queres de mim desta vez?" sem nada esperar em troca.

Porque por muito ingrata que seja, a vida é gratuita e espera que sejamos gratuitos para com ela...

27 de novembro de 2007

LIMITES

"O único limite que reconheço ao amor"- dizia-me um amigo- "é que na sua natureza não tem recursos para exigir que seja correspondido".

E então, em meia duzia de panadas, revisitei momentos de vida...

E pesando o deve e haver de todo um percurso dei por mim a pensar...

Ainda bem que é assim, tem mesmo de ser assim!...

Mas...
Porque raio pesa mais na nossa subjectividade aquilo que perdemos em relação áquilo que os outros ganharam com isto. Porque raio os nossos mecanísmos de sobrevivência são tão egoistas que quanto muito conseguem ludibriar a consciência com um rótulo orgulhoso de "vitória moral"?

Ainda não percebo completamente, mas já vou tendo a impressão que neste particular estou a passar ao lado do essencial...

17 de novembro de 2007

PESCADINHA DE RABO NA BOCA

Com a turbulência de ter de escolher o meu futuro, veio-me ao espírito uma ideia que me enche de serenidade...

Nao te stresses tanto com isso Pedro! Na verdade há coisas na vida que se resumem a uma pescadinha de rabo na boca... Quando no nosso coração sentimos que nos investimos (presente e pretérito perfeito, para facilitar a leitura) de verdade, escolhamos mal ou bem, só podemos desejar aquilo que no fundo também nos deseja a nós.

Quando agimos com inocência diante da vida, torna-se tremendamente dificil perceber-se se somos nós que escolhemos o nosso caminho ou se é a nossa vocaçao que nos escolhe a nós, porque as duas são um só! Uma pescadinha de rabo na boca.

Por isso, venha o que vier na quarta-feira, já me vou sentindo desejado...
E, nem que fosse só por isso... (no meio de tanta incerteza)
Também já a vou desejando!...

P.S.
Ao meus amigos e colegas que fazem este percurso comigo...
Boa sorte!
Boas escolhas!!!

11 de novembro de 2007

sms

A única forma de ser eu próprio é expondo-me nas minhas fragilidades, onde por incapacidade não tenho como manipular e por ser vulnerável deixa de ser interessante para os outros manipularem-me. Ai tenho mesmo de aceitar e ser aceite.

Obrigado Cat por me teres feito pensar umas horas...
Bjno

10 de novembro de 2007

CIVITAS CONTRA SE DIVISA NON STABIT...

Na discórdia não persistimos...

Neste caminhar tenho-me apercebido de que o silêncio é fundamental mas perigoso... Corremos o risco de nos fascinarmos pelo nosso umbigo... De nos deixarmos absorver na tentação de fazer balanços inuteis...

Pesando os ganhos em oposição a todas as dores e cicatrizes que carregamos em nós, se um dia tentámos ser felizes, nos nossos critérios, só podemos chegar a uma conclusão: demos mais do que recebemos... E isso ao orgulho doi muito...

Absortos, esquecemo-nos que quem nos rodeia (tão involuntariamente quanto nós) faz o mesmo movimento introspectivo, com os mesmos vícios de forma... E sem que o desejemos ou nos apercebamos entramos em rotura, primeiro com os outros e depois connosco próprios...

Sabes...
Em nós próprios não há caminho de consolo ou cura para os nossos limites e dores (pergunto-te... podera o melhor cirurgião cardio-torácico do mundo operar o seu próprio coração?)!

Que toda essa dor nos consuma... Mas num caminho de abertura ao outros... Nesse caminho de identificação com aqueles que rodeando-nos, no seu sofrimento também nos magoam (Sabes o que doi ao cirurgião plástico ver a cara desfigurada do grande queimado, cuja dor se propõe tratar?)!

Que toda essa dor se torne numa enorme fogueira, onde nos deixemos consumir... Mas não num monólogo interior egoista e estéril. Procurando antes nos nossos limites o fertil caminho de reconciliação connosco e com os outros.

Porque na discórdia não persistimos!
Rezo...

P.S. (Ocorreu-me enquanto escrevia...)

Discórdia

Etimologicamente:
Dis (mau) + Córdia (Coração)

4 de novembro de 2007

MONÓLOGO INTERIOR

Peguei no cajado e tenho andado em caminho...

Pelos recantos da minha alma tenho vagueado sem programa nem objectivos, naquela passada de turista que não sabe bem para onde vai, mais preocupado com o passeio em si do que com o destino onde os seus passos o levam.

Neste vaguear reencontrei sonhos e pesadelos, ora escondidos na obstinação de um desejo ora na surpresa de um daqueles viajantes que aleatóriamente se tem cruzado comigo.

Mas sobretudo tenho redescoberto o silêncio. Aquele que a todos nos desarma e assusta por nos obrigar a recentrarmo-nos em nós próprios e naquilo que somos. Este que tanto me custa.... Este que me angustia no lusco-fusco do anoitecer e me desampara nos pesadelos de meia noite.

Mas este doce silêncio onde me redescobro... Onde escondido choro e rio, num curar doloroso de feridas e num brotar poderoso de sonhos!

Onde, mudo (e aqui como gostava que lesses este silêncio da alma que não sei escrever), redescobro o sentido profundo da tua (e neste tu, sabes bem que é mesmo de ti que tens sentido a minha falta que eu falo) companhia e presença!

Sabes...
Viver só não é sentir falta de algo ou de alguem! Viver só é sobretudo, no silêncio, não se saber suportar a si próprio e cego não se perceber onde se faz mesmo falta.