21 de fevereiro de 2007

CAMINHA!

Hoje (num qualquer hoje que te é proposto) podes sempre querer começar a caminhar... Nem que seja porque se não o fizeres, amanhã lamentar-te-às do ontem que hoje desperdiçaste.

Serei eu um presente desenraizado de passado e sem futuro? Haverá mais do que isto na vida? Mais do que os meus problemas, as minhas fragilidades, as minhas alegrias e as minhas certezas?

Hoje o desafio é caminhar, numa viagem incerta e difícil... Numa viagem que me convida a excentrar-me de mim mesmo e a olhar com novos olhos para aquilo que me rodeia; procurando respostas profundas e pessoais àquilo que te perguntava ainda agora. É quaresma! Tempo de reparação. É tempo de endireitar veredas: fazer as pazes comigo próprio e com quem me rodeia, questionar-me seriamente sobre este Deus/Amor que teima em me interpelar.

E se sentires repulsa por mim, não ligues muito ao facto de eu ser Igreja! Não ligues sequer ao facto de eu ser quem sou! Hoje nem a mim isso me interessa... Importante é ter uma oportunidade de falar contigo!

Hoje mais que tudo gostava de saber tocar-te no profundo do teu coração descrente. Descrente de Deus, descrente da tua Vida, descrente de Ti Próprio! Ser teu companheiro de viagem. Inquietar-te... Provocar-te no sentido de te desinstalares... Desafiar esse teu coração a ousar excentrar-se do seu mundinho, das suas dúvidas e certezas em busca daquilo que na vida vale mais...

E, nem que fosse só por hoje, que alegria me davas se ousasses caminhar comigo! Caminhar com todos este rostos que, mesmo ai ao teu lado, tão bem conheces! Esses rostos que comigo dão cara a esta Igreja que na sua pobreza (porque sim! todos nós erramos e somos limitados como tu) se quer por também a caminho...

Vens connosco?

17 de fevereiro de 2007

IDEIAS INTRUSIVAS

Magoo-me muito quando após um pequeno erro consinto que a reflexão me arraste por um interminavel lamaçal de porquês sem resposta. Detesto estas ideias introsivas que se apoderam do sentir e amordaçam.

Não pretendo fugir às responsabilidades dos meus erros. Tão só reencontrar a paz de espírito própria de quem se redescobre sereno com os seus limites e se sente capaz de mais uma vez se dar à vida de forma inocente.

Detesto o orgulho velado que deposito neste esquema persecutório. Aquele segredar que do mais profundo de mim me vai dizendo que sou perfeito e que só não encontro soluçao para o meu problema porque não estou a estudá-lo com a profundidade necessária. Detesto este precipício sem fundo no qual, indolentemente, me vou deixando projectar. Tantas vezes na vida os nossos erros nos levam a encruzilhadas que na realidade não tem solução... Lembraste quando eras criança? Lembraste daquela tarde em que partimos o teu brinquedo preferido? Dolorosamente percebemos que a única solução era irmos para junto do pai chorar a nossa imprudência.

Detesto o egoismo ébrio com que me inibrio! Num turbilhão frenético de afectos convencido que são minhas as nossas vitórias e derrotas. Esqueço-me tão depressa que no meu sucesso encerro a tua esperança e sorriso tcom a mesma intensidade com que nos meus erros arrasto a tua leviandade e distância!

Sabes... Acho que já basta! O que eu queria mesmo por hoje era deixar de me consumir na minha reflexão... Estou a desperdiça-la com os meus medos! Oxalá esta semana encontre em ti a serenidade de que preciso para melhor a canalizar para quem dela precise.

10 de fevereiro de 2007

ESCRAVOS

Alguem inteligente e bem disposto escrevia há dias parodiando e sorrindo com a sua própria fragilidade. Com a parvoeira deste sentir-se apaixonado que não vem nos livros e não se consegue descrever.

Sorri! Tantas vezes me sinto cumplice e vítima desta mesma prisão. Prisioneiro desta liberdade suprema que de tão profunda e intensa dispensa paredes e grades para me agrilhoar. Deste aperto do coração que do mais profundo de mim mesmo se apodera do meu sentir e me escraviza.

Posso (e devo) tentar educar os meus afectos e não lhes reagir de forma primária. Mas o Cupido (já para não falar de outros Robins dos bosques a disparar setas ao acaso) saberá sempre subverter o esquema e num curto circuito interior me explicar que na vida não se pode ser feliz exclusivamente à martelada racional.

Mas, para ser sincero, gosto desta prisão. Gosto de ter o infinito como paredes e o sonho como grades. Gosto particularmente do carrasco que dorminhoco me vigia: gosto deste prudente segredar da razão que me diz que me estou a deixar iludir pela realidade desafiando-me permanentemente a levantar-me e ir embora...

Mas daquilo que gosto mesmo é da resposta que me dá a minha alma... Que a realidade de ser prisioneiro iludido deste sentir será sempre melhor que a liberdade afectiva com que a razão me pode prender numa independência ilusória que não tem como me realizar.

3 de fevereiro de 2007

LEVANTA A CABEÇA

A tua vida não é um emplastro. Nessa rotina que não sentes e não vês, nessa rotina que te esmaga e que te tortura, nessa rotina que não desejas e não queres para ti vais amando e entregando-te a dezenas de pessoas a quem fazes muita falta. Vais-te gastando, discreta como um fósforo que por uns segundos ilumina uma sala escura. E, cega de desespero, não te deixas apaixonar pelos sorrisos que te vão sendo devolvidos; não te apercebes que a tua chama contagia.

A tua vida só será emplastro na medida em que te demitires dos teus sonhos e deixares que eles te passem ao lado. Podes fazer coisas muito pequenas e sem valor aos olhos de quem te rodeia. Pode até acontecer que não te apercebas do seu valor. Mas, se forem verdadeiras e num movimento sincero de entrega, são perolas que brotam do mais profundo de ti. São tesouros que pela sua generosidade e inocência deixam de poder ter valor. Pergunto-te quanto vale o beijo apressado de um pai que deixa os filhos na escola? Perderá o seu valor por ser apressado?

Não te iludas com o teu sentir... É quando duvido mais de mim próprio e da utidade daquilo que faço que estou mais seguro da bondade daquilo a que me proponho. Porque as coisas boas da vida, os nossos sonhos são mesmo assim, difíceis de obter e fáceis de duvidar.

Deixa-te tocar sinceramente por esse sentir que te consome. Assume o risco de gostares de ti pequena como és. Assume o risco de acreditar por um segundo que as pessoas não valem pelo que tem ou pelo que fazem mas sim por tudo aquilo que são, principalmente pela fragilidade que encerram e nos interpela a agir e pela força que emanam e nos conforta nas nossas quedas.

Levanta a cabeça e assume o risco de rasgar no teu coração esses critérios mesquinhos de grandeza e auto-suficiência que te torturam a alma. Abraça com toda a força essa miséria que aos poucos descobres em ti própria... É o preço que a tua vida te cobra por perseguires os teus sonhos.

E, depois de chorares, do buraco com que vais ficar no fundo da tua alma não deixes que se forme aquela cicatriz disforme própria de quem a vida derrotou. Faz desse teu novo espaço de alma inquietação permanente e movimento inconformado que perpetuamente te projecte sobre os outros. Porque a isto... A isto chama-se sonhar!

CONTIGO

Hoje era Contigo que eu queria falar no meu silêncio. ..

Na correria do dia a dia tenho falado pouco Contigo e nem sempre tenho sabido abrir-Te o meu coração. Passas sempre discreto e despercebido. Também eu tenho de fazer o esforço de Te procurar e encontrar. É verdade que teimas em escarrapachar-Te diante de mim, mas eu, distraido, nem sempre te presto atenção.

Faz-me falta esta Tua presença. Faz-me falta reconhecer-Te encarnado e vivo naqueles que me rodeiam, nas suas (Tuas) alegrias e dificuldades... As vezes é bom fechar-Te numa rodoma de vidro de uma crença teórica, desprovida de afectos, na qual não Te toco e sobretudo não Te deixo tocar-me... Não me comprometo, logo não me poderás incomodar...

Mas sabe sempre a pouco... Sabe sempre a pouco bater com a mão no peito e teimar em não dar o peito a quem me estende a mão. No exercício da solidão de pouco me serves se fores essa teoria desenraizada da minha vida... Calculo, se quiser ser justo, que também de pouco Te servirei então se teimar, desconfiado, em não querer fazer de Ti Vida...

Nas minhas alegrias estarás sempre ausente se não as festejares comigo nos rostos sorridentes dos que me rodeiam. Calculo, se quiser ser justo, que estarei ausente se nas Tuas alegrias não sorrir também para os que me rodeiam.

Nas minhas tristezas de pouco me vales se não teimares em Te manifestar no amparo dos que me rodeiam. Calculo, outra vez tentando ser justo, que de pouco Te servirei se nas tristezas dos que me rodeiam não me disposer a Te emprestar o meu amparo.

Por tudo isto, hoje era Contigo que precisava de falar... Porque, por muito que queira, não saberei ser Teu amigo sem a Tua ajuda... Faz-me falta ver a Tua irreverência. Faz-me mesmo muita falta ver esse Teu enorme coração de pão, outra vez e de novo, teimar em querer tomar para Si a cruz que é a vida dos que me rodeiam nas suas alegrias e tristezas.

Que esta semana, nestas vidas que me envolvem, saiba reconhecer esse Teu sorriso cumplice que desde já sei que derramas sobre mim! Para que mais que bater com a mão no peito a saiba estender docilmente diante de quem dela precisar.