10 de fevereiro de 2007

ESCRAVOS

Alguem inteligente e bem disposto escrevia há dias parodiando e sorrindo com a sua própria fragilidade. Com a parvoeira deste sentir-se apaixonado que não vem nos livros e não se consegue descrever.

Sorri! Tantas vezes me sinto cumplice e vítima desta mesma prisão. Prisioneiro desta liberdade suprema que de tão profunda e intensa dispensa paredes e grades para me agrilhoar. Deste aperto do coração que do mais profundo de mim mesmo se apodera do meu sentir e me escraviza.

Posso (e devo) tentar educar os meus afectos e não lhes reagir de forma primária. Mas o Cupido (já para não falar de outros Robins dos bosques a disparar setas ao acaso) saberá sempre subverter o esquema e num curto circuito interior me explicar que na vida não se pode ser feliz exclusivamente à martelada racional.

Mas, para ser sincero, gosto desta prisão. Gosto de ter o infinito como paredes e o sonho como grades. Gosto particularmente do carrasco que dorminhoco me vigia: gosto deste prudente segredar da razão que me diz que me estou a deixar iludir pela realidade desafiando-me permanentemente a levantar-me e ir embora...

Mas daquilo que gosto mesmo é da resposta que me dá a minha alma... Que a realidade de ser prisioneiro iludido deste sentir será sempre melhor que a liberdade afectiva com que a razão me pode prender numa independência ilusória que não tem como me realizar.