12 de janeiro de 2007

CASA DAS MÁQUINAS

Custa-me muito ter o coração em baixo... Já me pus a caminho, mas ele é sempre o último a querer arrancar. Largou âncora nas margens do desespero e esforça-se por contrariar os ventos auspiciosos da vontade e do sonho.

E como é difícil levantar esta âncora. Sinto-me comandante de um barco com a casa das máquinas no rescaldo de um grande incêndio. A tripulação é voluntariosa e esforçada, mas o motor, entorpecido, não consegue acelerar muito o ritmo… Quando a corrente é propícia avança-se, mas assim que se entra em águas conturbadas, traído pela fragilidade do motor, depressa se fica à deriva.

Custa-me muito esta fragilidade de coração que proclama solene o terrível fado de uma vida feita de “dias sim e dias não”, esta fragilidade que contrariando o meu desejo de regressar e colocando-me dependente da boa vontade dos ventos e das marés me dificulta o movimento de fazer de cada instante um novo sim.

A este capitão, restam porém vários consolos… A segurança de ter uma tripulação motivada e esforçada, a felicidade de descobrir que nas vossas palavras vão soprando bons ventos, o encontro de uma maré que me tem sido tão propícia na vossa preseça disponivel e a certeza que aos poucos, nas profundezas da casa das máquinas em breve as reparações estarão concluídas.