9 de dezembro de 2006

SOMBRA

No projecto que abraçei nestes meses sinto-me uma sombra. Como todas, fiel ao seu dono, discretamente acompanhando-o para todo o lado.

Como custa ser sombra! Vario de dimensões involuntariamente e ao sabor do sol. Grandiosa na alvorada e ao entardecer e vazia de sentido no profundo da noite ou no esplendor do meio dia. É assim que pulsa o meu coração, num frenético ritmo circadiano em que tão depressa me encho de esperança sonhadora como logo logo redescobro os meus limites e incapacidades.

Como custa ser sombra! Ser reflexo imperfeito de um ideal que tantas vezes nos surge utópico e inacessivel. Aspecto pobre e incolor de um ser grandioso. Alegoria da caverna corporizada neste caminho arduo e agreste.

Como custa ser sombra! Condicionado na minha essência por este solo que conforme a sua disponibilidade me dá corpo. Sentir-me dependente de uma textura instável que sendo minha não me pertence. As vezes calcário maciço, outras vezes lodo vacilante.

Como custa ser sombra! Ligado à minha essência pelos pés, absolutamente dependente dela numa relação umbilical; perceber com todos os sentidos que apenas no brilho transcendente dos meus sonhos me esgoto e consumo. Ter que voluntariamente me ver algemado numa prisão em que as paredes são este meu cinzento limitado no qual, pelas grades da janela, se projecta esta luz de uma liberdade que em mim mesmo permanece inacessível.

Como custa ser sombra! No caminho discreto de quem corre atrás de si mesmo, pisado pela vida de tantos outros que também apaixonados e levados por ideais e utopias desprezam no seu passo acelerado estes tons cinzentos batidos no chão.

E no entanto, que experiência libertadora esta de me saber tão só sombra!!

Perceber que na minha fidelidade tenho feito a minha pequena parte... Reconhecer que na minha essência, e independentemente de resultados, serei sempre simples reflexo telurico de ideais traçado no chão a golpes de sol que largamente me transcendem.

Desvanecem-se a ansiedade e o medo. Nesta dependência fusional renascem a confiança e a esperança próprias de quem sabe que por muito que lhe doa nunca lhe será retirado o enorme privilégio de ser simplesmente sombra!