22 de dezembro de 2006

PRENDAS

Gostava de ser original e irreverente. Não me consigo conformar à rotina cada vez mais desprovida de sentido de centrar toda a minha amizade e afectos a uma meia duzia de embrulhos trocados em meia duzia de horas.

Não vejo mal nenhum em dar prendas, antes pelo contrário, acho positivo e saudável. Simplesmente parece-me muito pouco e pobre tendo em vista aquilo que o Natal nos propõe na sua essência. Parece que arrumamos num gesto mecânico um desafio de entrega que se deveria propagar nos tempos.

Creio que nestes tempos a entrega pessoal tem andado muito pelas vias da amargura. Porque nos iludimos todos um pouco em dar num embrulho bonito uma prenda vistosa que enchendo nunca preenche. No fundo sentimos sempre aquele vazio profundo de quem deu sem alguma vez se ter dado.

E paradoxalmente, ao mesmo tempo, temos medo de nos dar num gesto generoso. Tantas vezes nos custa libertar um sorriso ou um abraço só porque nos envolve e nos compromete, porque temos de diluir a nossa alma e perder a nossa independência egoista e "higiénica".

Também sou muito assim. Mas não me conformo. Gostava de ser diferente. De fazer dos meus passos embrulho comprometedor de uma prenda sempre vivida e presente.

Há mais alegria em dar do que em receber!

Santo Natal