28 de dezembro de 2006

DISTANCIAS AFECTIVAS

Quanto vale em termos de distâncias um "Quero!"? Que estranho movimento da alma é este que faz que quanto mais benigno seja o desejo mais difícil se torne concretiza-lo?

Porque nos custa dizer num tom comprometido e verdadeiro um "Amo-te" olhos nos olhos sentido e despojado de intenções que tenha coragem de não olhar a resultados se no mesmo momento é tão fácil para dois corpos se fundirem hipotecados a uma intencionalidade tão despojada de sentidos materializada numa relativa jura de amor, de conteudo sempre dependente das contingências instantâneas do engate vingente, hipócrita e apressada?

Porque nos é tão fácil entrar em sonhos megalómanos de grandeza e se torna tão penoso trilhar o caminho justo para um dia os alcançar? E porque, diante da dificuldade, logo nos predispomos a hipotecar os sonhos e nos conformamos a uma realidade light que não nos preenche por completo? E já agora... Com que facilidade confundimos trajectos. Vícios e virtudes, forças e fraquezas.

Todas estas dúvidas me surgem em tons embaceados de cinzento que não me cativam, não sei aceitar e dos quais não quero fazer parte. Vejo contudo nestes cinzentos, neste medir impossivel de distâncias, o centro da minha falibilidade e o princípio dos meus limites. Apercebo-me aqui que na minha natureza nunca saberei valer-me a mim próprio.

E contudo também não quero deixar de ser assim. Perfiro viver na incerteza deste sonho que me projecta a vergar-me ao comodismo tenebroso de um dia deixar de sonhar. Porque se o sonho de um quero tem em mim uma distância afectiva muito relativa e difícil de prever que muitas vezes me faz errar, encerra no seu intimo a força de que preciso para me fazer ao largo e trilhar o caminho que a cada dia me é proposto.