Sempre me fascinaram os berçarios das maternidades, ver três ou quatro bebés em linha como se aquilo fosse uma grande fábrica de milagres.
Na semelhança inegavel que existe entre todos- às vezes à vista desarmada e sem um olhar mais aprofundado é difícil perceber se é menino ou menina- percebem-se logo as diferenças profundas que existem entre cada um deles na multiplicidade rica que a vida tem para nos conceder. Descobrir o Pedro maravilhado com o mundo que se lhe abre diante dos olhos, a Maria sonolenta a fazer uma sesta depois do esforço de nascer, o António (já gordinho) a fazer uma birra enorme de fome.
É um esboço de mundo em microcosmos que naquela salinha se encontra. Um esboço no qual se descobrem cruas e gratuitas as linhas mestre de uma Vida e Humanidade rica e diversificada, que mais tarde, no nosso dia a dia, só se reconhecem se teimarmos em manter aquele olhar inocente e maravilhado de um Pedro recém-nascido.
E como é fantástico aqueles bébés todos, com poucas horas de vida, encandeando-me com a luminosidade de um sol de meio dia, curarem a minha cegueira de 24 anos recheados de certezas e rotinas.