14 de novembro de 2006

VIVEIROS II

Intriga-me muito o choro simultâneo dos bébés. Quando um começa a chorar os outros acompanham em coro até aparecer um adulto. É um mecanísmo de defesa comunitário maravilhoso. A probabilidade de se ouvir dois bébes a chorar é o dobro da de se ouvir só um.

Desaprendemos muito depressa a chorar. Primeiro deixamos de chorar pelos outros e depois acabamos por nos esquecer de chorar por nós próprios... Quanto muito sentimos sentimentos de raiva ou fustração.

No princípio não era assim... Choravamos muito! e todos juntos!.... Há quem lhe chame crescimento... Não tenho tanta certeza disso. Continuo a preferir e a sentir que me é mais fácil acolher as tuas lágrimas periclitantes do que a frieza segura dos teus insultos... Sei bem o alívio interior que meia duzia de lágrimas verdadeiras produzem...

Esta ideia que se nos enfiou na cabeça de que só os fracos choram... Negamos a natureza intrínseca do nosso coração: As grandes almas e os grandes projectos foram todos regados a lágrimas.

Não sou lamechas nem sinto grande necessidade de chorar, simplesmente gostava de redescobrir no viveiro o meu eu "chorante". Para que no dia em que tenha necessidade ou simplesmente que seja oportuno, deixe de ter medo de chorar e perceba que chorar é de facto o nosso primeiro gesto comunicante e uma das grandes locomotivas que movem os nossos coração e vida.