Na mitologia grega o rei Midas sempre me surgiu como um personagem que me causava alguma repulsa. Cego na sua ganância de dinheiro, quando teve a primeira oportunidade pediu aos deuses que lhe dessem o poder de transformar tudo quanto tocasse em ouro. E assim se viu o gordo anafado emagrecer, definhar e morrer de fome, pois todo o alimento que tocava se transformava em ouro.
Esta semana mudei muito a minha apreciação deste personagem por quem nutro agora alguma simpatia. Percebo que nele se reflecte um pouco da minha existência. Tem-me impressionado imenso, quanto a minha mão, ainda que cheia de boas intenções, pode transformar as coisas em ouro que de nada me serve nem a mim nem a quem me rodeia. Quanta coisa boa consigo estragar por falta de jeito ou simplesmente por fragilidade. Imagino a miséria que o rosto do Midas transmitiria, não de fome mas de desespero de não conseguir emendar-se.
A esperança essa refugiu-a nesses dias nesta racionalidade desencarnada de afectos que me ensina, observando a experiência que me precede, que a vida é como as ondas do mar e que o bem em última analise prevalece naqueles que de coração aberto o procuram (ainda que nos possa contrariar).