22 de outubro de 2006

PORQUE VOU À MISSA

Duas amigas perguntaram-me recentemente em contextos diferentes porque vou à Missa...
Respondo-lhes com um texto que escrevi há cerca de um ano no raizes. Continua a ser a melhor resposta que encontro. Um beijinho para vocês as duas

O dia já vai longo. Correu bem, tenho o espírito cheio. Cheio de alegrias e vitórias, canseiras e tristezas. Como me custa abstrair-me de mim próprio, do meu mundo e da minha vida. Sou novo, tenho energia. Tudo quero viver, tudo ver, tudo sentir! O mundo pisca-me o olho… São luzes, são cores e risos, são contrastes que me maravilham.

E então, no escuro do coração que desconcentrado tenta rezar umas palavras para dormir, surges numa manjedoura… Relembras-me Menino que nem tudo é assim. Há um mundo que em silêncio vai (discretamente) nascendo como o sol. A Tua simplicidade intriga-me. A curiosidade acalma o coração e aviva o espírito. É curioso! Preenches! Mas onde estão as luzes e os risos? O que me atrai? As palhinhas? A estrela no céu? A vaquinha? Talvez simplesmente a alegria de um menino recém-nascido?

Sorris. Desarmas-me e deixo-me envolver nesse sorriso. Sorrio Contigo. Mentalmente revisito o Sacrário. Como me custa as vezes o estéril sacrário Jesus. Parece que fugiste. Está lá uma luzinha mas eu tenho o meu coração fechado. “Coração?”-perguntas-me Tu. E eu fico pensante. Lembro-me de uma catequese… de me ensinarem que diante de mim está o Teu coração. Sim, um coração de carne, que bateu no seio de Tua mãe. Igual em tudo ao meu que sinto latejar no meu peito.

De repente sinto a pedra que tenho dentro de mim: É verdade… Bem queres que os nossos corações sejam iguais! Ofereces-Te no Teu coração todos os dias nos altares das Igrejas para que o nosso pulsar seja um só. E que faço eu com isso? As vezes nada… ou mais grave ainda, sorrio pela pedra dura que tenho no peito clamando “o nosso coração está em Deus” numa rotina que não se quer deixar maravilhar, convencida que tudo percebe e tudo sente.

Revisito o sacrário e vejo a cruz. Pergunto-me onde estava o Teu coração nesses momentos? E segredas-me ao ouvido “Ao teu lado, sempre esteve ao teu lado, pulsando e batendo por ti até à última batida!” e sorridente acrescentas “Se acreditares, hoje mesmo estarás Comigo no paraíso”. Relembro-me dos dois ladrões… Revejo-me neles. Duvido do meu coração e da minha sabedoria… Diante de um foragido crucificado veria eu a minha salvação? Provavelmente não… Tenho um coração duro e sei muito pouco!

E maravilhas-me… Consentes que me afaste de mim próprio e veja um pouco do mistério: um coração duro e empedernido que na ternura do Teu pulsar queres fazer bater para encher de Vida. E o mundo desvanece…
Olhando para o dia que termina consigo toscamente reconhecer o Teu sorriso naqueles que ajudei, o Teu chorar naqueles que maldosamente abandonei, a Tua força nos momentos em que venci e a coroa de espinhos que Te ofereci na maldade que consenti. Apercebo-me que és um Deus vivo, actuante e concreto.

E sereno apercebo-me o quanto o essencial é invisível aos olhos, sinto o meu coração timidamente dar uma batida e apercebo-me que foste Tu quem o fez bater. Percebo que todo o resto virá por acréscimo… Os pedidos de desculpa que terei de fazer, os agradecimentos que terei de dar e a sabedoria e caridade que as surpresas que o amanhã me reserva exigirão.

Muito obrigado, tem uma boa noite e até amanhã!