23 de outubro de 2006

FEMINILIDADE E MATERNIDADE

Sempre me fascinou a maternidade, esse movimento que nunca poderei reproduzir. Não só no aspecto óbvio da gravidez e do parto mas também nas horas de sono mal dormidas que as mães passam por culpa dos filhos ou na mortificação sempre inconformada de os verem perdidos. Alegra-me essa essência protectora tão própria das mulheres.

Creio que a sociedade é muito sexista. Fazendo a apologia cultural de um estereótipo marcial de luta e vitória discrimina a feminilidade nesta sua essência. Convida as mulheres a serem homens (com h pequeno) como eu, arrastando a maternidade para um patamar secundário e cobrindo-a muitas vezes de um manto discriminatório.

Nestas coisas sou muito sexista! Não posso querer ter a presunção de tratar por igual coisas que a olhos vistos não são iguais. Mas não de uma forma decrépita e retrógrada. Não me fascina nada o modelo machista do século XVIII do "jantar, pantufas e jornal" nem tão pouco o modelo feminista do século XX dos soutiens queimados pugnando por uma pertença liberdade do jugo masculino.

Acredito na complementariedade. Sinto que na minha masculinidade (com as suas virtudes e defeitos) se esgota a tua feminilidade e na tua feminilidade (com outras virtudes e defeitos) se esgota a minha masculinidade.

Parece-me urgente mudar formas de se estar na vida. Para quando este já tardio e necessário reconciliar de sexistas inveterados? Para quando este deixar para trás de umbigismos pugnantes por privilégios em proveito de um reconhecer que nestas diferenças existe o espaço indispensável para se alicerçarem relações a dois verdadeiras.

Para quando o juntar vozes por valores que nas nossas diferenças profundas reconhecemos no sexo oposto? Sonho em ver mulheres fazerem a apologia da essência masculina da paternidade e homens a reconhecerem o mérito intrinsecamente feminino da maternidade. Todos (homens e mulheres) seguros de si próprios e dos seus papeis e felizes por verem no sexo oposto os seus limites e razões ultimas das suas capacidades num gesto franco de abertura e interdependência.

E isto teria de passar pela reabilitação urgente e reconhecimento social das diferenças entre maternidade e paternidade, protegendo ambas como dinâmicas distintas, complementares e indissociáveis.