24 de outubro de 2006

DUVIDAS

Este não é, nunca foi nem nunca será um blog político. Detesto política.
No entanto a democracia apela nestes meses à intervenção directa de todos... Sinto-me pois convidado a exprimir a minha opinião com clareza, ainda que corra o risco de não ser consensual nem tão pouco políticamente correcto. O caracter não se quer proselítico ou dogmático... São achas para a fogueira para uma reflexão isenta que deve processar-se no intimo de cada um.

Querem-me fazer crer que um embrião de 10 semanas não tem identidade jurídica mas outro com 10 semanas e uns segundos terá. Duvido! Surge-me com muita clareza diante do espírito que a célula-ovo possui em si uma identidade singular e humana intrinseca configurada no seu património genético.

Querem-me fazer crer que faz parte do corpo da mulher. Duvido! À luz daquilo que vejo a relação embrião-mãe assemelha-se muito ao parasitismo. O embrião é totalmente dependente da mãe, condicionando mesmo a sua fisiologia. No entanto no sentido restricto não é "mãe". Mãe é tudo o que o envolve.

Querem-me fazer crer que é um problema da mulher, do foro da sua intimidade. Duvido! Os embriões não surgem por geração expontânea. Nalgum momento um homem desempenhou um papel e deve ser corresponsável nas obrigações e privilégios inerentes aquele ser. O verdadeiro problema da mulher é a sociedade querer isolá-la, dissociar a paternidade de todo este processo e fazer crer que tem de estar por conta própria diante de cenários que reconheço são muito difíceis.

Querem-me fazer crer que respeita a vontade de todos- que aqueles que sentem necessidade podem faze-lo e os que não querem não são obrigados. Tenho duvidas! Sendo realizado pelo SNS é pago pelos impostos de todos. A vontade daqueles que estão contra não é respeitada.

Querem-me fazer crer que é um problema de saúde pública. Aqui tenho menos dúvidas, contudo questiono-me se não existirão problemas de saúde pública que tocam muito mais gente e que deveriam ser prioritários. Que dizer da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis ou do déficit de natalidade e consequente envelhecimento populacional? Por outro lado será a despenalização a única forma de responder a este problema? Tenho dúvidas!

Querem-me fazer crer que é uma opção. Tenho dúvidas! A Vida não é uma opção, é uma causa pela qual todos os dias milhares de pessoas sofrem e lutam. Como a Liberdade, a Democracia entre tantos outros pilares da nossa sociedade. Consideremos por absurdo que a Liberdade não é tanto uma causa mas antes uma opção. Neste contexto podemos sempre argumentar que sendo opção é relativa, criem-se pois campos de concentração para aqueles que segundo a minha opção de liberdade não são verdadeiramente livres... Parece-me no mínimo absurdo.

Querem-me fazer crer que é evolução e modernidade. Tenho Duvidas! Numa sociedade que pretende valorizar opções, a redução hiérarquica de uma causa a simples opção nunca pode ser modernidade ou evolução. É retrocesso que contraria as grandes conquistas e as causas vencidas pela nossa sociedade. Parece que será tão retrocesso como o seriam a censura e outras restrições à liberdade de opinião, o retorno à tortura e a prática de sevícias corporais punitivas, a instituição da pena de morte.