Vais levar-me este doente!
E com ele a minha inocência...
E com ele as lágrimas que me vão correndo pela cara...
Pior...
Usaste-me;
Fizeste de mim anjo negro da morte:
Entrou pelo meu gabinete saudável,
Frágil, confiou em mim,
Vasculhei-lhe as entranhas,
Nas suas profundezas, reconheci-te mudo, cruel e indiferente.
E desconsolado
Tornei-me rosto de um prenuncio de morte.
Mas sabes...
Não me demoves... Detesto-te...
Perseguir-te-ei com todas as minhas forças,
E toda a tua maldade esgota-se e morre aqui!
Não me perturbas mais que isto.
Não me perturbaras mais que isto.
Não o consinto e nunca mais o consentirei...
Sim...
Levar-me-às esta alma um dia...
Mas ei de ta vender cara!:
Oxalá a cada dia que lhe sobre,
A minha magia de quimio e morfina
Lhe conceda, confortável, um sorriso tenaz e impertinente
E, a mim...
Neste papel de testemunha por vezes tão impotente
esta fidelidade resoluta e risonha de a cada dia
na eminencia de poder mesmo ser o último
Vivê-lo, esplêndido, como se fosse o primeiro!