7 de setembro de 2007

O PICAR DO PONTO

Tenho feito um esforço cada vez maior por redescobrir as banalidades da vida. Aquelas coisinhas tão pequeninas e rotineiras a que nunca damos o seu valor e que, orgulhosos, justificamos com um hipócrita " picar o ponto".

O picar do ponto de me lembrar das pessoas que me rodeiam. Visitar os meus familires afastados, nem que seja para lhes contar as mesmas coisas que eles já souberam pelos nossos pais, disciplinar-me em saber notícias daquele amigo de infância submerso no seu novo trabalho e nos projectos do seu casamento, aturar as lamurias vãs do colega de trabalho que todos os dias vem para cima de mim com a mesma conversa.

O picar do ponto de acolher a simpatia daqueles que me amam. Receber aquele sms que todos os dias me bate à porta e a que só dou valor no dia em que não chegou. Mobilizar-me estafado no entardecer de sexta-feira para ir ao bairro alto picar este ponto de num par de horas rever aqueles amigos de faculdade que de passagem por Lisboa a caminho da viagem de férias me ligam em cima da hora a dizer que vão para a borga.

O picar do ponto de me deixar maravilhar com os pequenos eventos do quotidiano, de ir de férias e delas saber tirar partido, de redescobrir na água do banho de sábado a sua textura fluida ou no encharque da tempestade indesejada a sua frivolidade refrescante. De a cada chavena bebida a correr no bar do hospital tentar redescobrir o sabor do café e

O picar do ponto de reconhecer as singularidades infinitamente repetidas dos pequenos afectos sublimados nos rostos de quem nos rodeia. Ler o olhar de desespero da senhora que está à minha frente no autocarro no seu olhar sistemático para os ponteiros do relógio, reconhecer a felicidade da padeira que me vende o pão pelos movimentos com que empacota a minha encomenda ou a alegria camuflada nos passos dos adolescentes que, ao cruzarem-se comigo pela rua se descobrem e preparam-se para fazer juras de amor eterno.

Porque a vida é muito curta e demasido boa para que eu me demita de teimar em querer picar o ponto... Hoje pergunto-te... Porque continuas aí. De certeza que te lembraste do ponto que há uns dias tens evitado picar... Levanta-te, mexe-te! PICA!!!!