15 de junho de 2007

ELOGIO AO CANSAÇO

Gosto deste sentir-me cansado que simplifica a prudência e me abre o coração ao consolo de me saber tão pequeno. Deste cansaço que, vencendo-me, me desafia a proclamar tréguas ao mundo e a reparar os desvios do meu egoismo.

Este cansaço que diante do doente que me pergunta "quando vou ter alta?", me quebra o coração e os nervos por saber do prognóstico reservado que lhe colocámos no óbvio diagnóstico, rótulo sombrio de morte, que a minha fé não consegue contrariar e a minha ciência não sabe travar.

Este cansaço que magicamente faz do dia, noite... e da noite; dia! Transformando cada por do sol numa nova alvorada, que nas escassas horas de sono me promete o consolo que o dia não me trouxe. Mudando as cores da alvorada numa penumbra de tons pastel que promete a serenidade que a noite mal dormida teima em não me conceder.

Este cansaço que, num final de tarde de primavera, me obriga a recolocar-me diante de toda esta vida. Este cansaço que sufocante não me dá espaço para que tome nada como garantido, abrindo-me novamente os olhos para este enorme milagre que tantas vezes, levado pela força que me corre nas veias, teimo em deixar escorrer por entre os dedos.