29 de maio de 2007

DE BOCA BEM FECHADA

Quanto vale um silêncio? Já te apercebeste do tanto que, cruzando olhares profundos, nele se troca sem nada se dizer? E por vezes o tanto que se perde na verborreia precipitada de quem não (se) sabe escutar.

Gostava de saber falar-te sempre de boca bem fechada. Naquele silêncio agradavel, próprio de quem te escuta e se interessa por ti. O mesmo e único silêncio no qual, pela sua cumplicidade comprometida e desapegada, podes encontrar respostas concretas e objectivas aos teus anseios.

Gostava de não ter de justificar os meus actos por palavras. Pelo contrário, de boca bem fechada, ter o dom de justificar com a minha vida aquilo que, desbocado, vou dizendo por ai. Não ter de ser advogado em causa própria, vivendo antes numa constância serena, ingénua diante da vida que se me dá, destemida diante das dificuldades e indiferente aos riscos de ousar ser vertical.

Gostava que a minha alma me soubesse sempre falar de boca bem fechada, com um olhar perspicaz e tolerante, desafiador e acolhedor. Não se vangloriar nos seus submundos pelos seus méritos nem tão pouco desprezar-se nos seus fracassos. Assim livre e verdadeira diante de si própria, não perseguindo o erro para o evitar nem a verdade para a alcançar sem olhar a meios.

Consegues escutar o meu (teu) silêncio? De boca bem fechada... que te diz ele?