8 de janeiro de 2007

POLO NORTE

1-BÚSSOLA

Como se comportará a bússola no pólo norte? Que sensação trará ao caminhante ver a sua agulha rodar freneticamente. Sobretudo quando à sua volta se estende um deserto branco a perder de vista. Será que na amargura da incerteza se apercebe que a sua expedição terminou e que chegou ao seu destino?

Pode custar muito chegar ao fim da expedição e deparar-se com um objectivo cumprido. No caminho não sabemos o que nos espera… E chegando ao fim, diante da bússola oscilante que relativiza o destino da expedição, descobrimos a essência do propósito a que nos lançamos um dia. Descobrimos esta Humanidade que na sua pobreza de sonhos infinitos construídos com recursos limitados encontra a sua verdadeira riqueza.


2- POLO NORTE

Nas inevitáveis contas do deve e haver da alma nas quais o silêncio desnorteado da bússola nos mergulha, ganhamos recuo sobre o trajecto cumprido. Apercebemo-nos dos momentos em que reinou o desejo genuíno de ir mais além e daqueles em que deixamos que estes mesmos propósitos se consumissem na mesquinhez avara de um suposto sucesso que nada tem que ver com a realidade alcançada.

Nesta singularidade que é o pólo norte, se em relação ao passado as conclusões surgem muito óbvias, no presente que –por ser de um caminhante sonhador -se quer projectar sobre o futuro, só temos uma cúmplice. Chama-se ambiguidade. A indecisão submerge o caminhante. Que caminho tomar de regresso? Para que lado está a nossa casa?

Experimenta-se toda a ambivalência da nossa liberdade. A incerteza profunda de não se saber por onde se deve regressar estranhamente amalgamada à felicidade insuperável de se saber que qualquer rota nos tirará deste impasse.

3- REGRESSANDO

E depois de uns momentos de medo e insegurança percebe-se! Na oscilação da bússola descobrem-se as novas fronteiras que agora limitam o desconhecido da nossa alma. E deseja-se partir ao seu encontro.

A primeira vista parece sempre mais fácil o regresso. Contudo é a parte mais difícil da viagem. Deixa de se ter diante dos olhos a novidade aliciante do desconhecido para se ser confrontado com o reencontro com caminhos conhecidos que sem nos seduzirem tem que ser redescobertos e percorridos.

É a viagem da fidelidade a todo o sonho… Aquela onde revisitando todas as rotinas do caminho que julgamos conquistado se experimenta na carne que não se pode ser fiel nas grandes glórias sem o ser também nas pequenas obrigações.

E por ter percebido isto hoje, creio ter dado o primeiro passo… Sei que por ter estado parado, os próximos passos serão muito pequeninos. Mas quero muito dá-los!