10 de janeiro de 2007

À PETITS PAS

Os primeiros passos do regresso são sempre tímidos, como o gatinhar da criança. Fazendo coisas pequenas como arrumar o quarto ou escrever uma carta a um amigo cumpro com pequenos objectivos e ganho motivação e inércia para o resto do caminho.

Neste gatinhar maravilho-me com pequenas coisas que há muito tempo tinha deixado ao pó no sótão da alma. Como é bom perceber que a qualidade daquilo que fazemos não depende da dimensão do projecto em que estamos implicados mas sobretudo da seriedade com que nos entregamos e nos deixamos preencher pelos pequenos desafios da vida. Dar-me com a mesma entrega aos lençóis que se querem bem esticados da cama como me dei um dia a um exame que sabia definiria uma boa parte da minha vida e sentir a mesma alegria elementar diante de ambos os resultados. Será uma migalha, só por ser pequena, menos pão?

Mas nem tudo é um mar de rosas. Custa muito olhar para as grandes coisas que já fiz outrora e, comparando-as com o pouco que consigo dar neste momento, ser capaz de as confinar a um passado que já não me pertence. Mas penso que é esta a abordagem! Deixar tudo para trás crente que é neste momento uma ilusão que embacia e turva a forma como olho e reajo ao meu presente.

Ainda tens a inocência da criança para te aperceberes disto? De perceberes que a força da tua vida transcende em muito as dificuldades que te rodeiam dando-te sempre a possibilidade de te entregares e assim receberes? E sendo mais ousado… Consegues encontrar nessas dificuldades, às quais te furtas, pretextos gratuitos para construíres felicidade?

É tempo de timidamente e “à petits pas” deixarmo-nos todos de palavras vãs e saudosismos bacocos de um passado porventura glorioso que já não nos pertence, e nos gestos pequenos do nosso dia a dia assumirmos sorridentes os desafios que a vida nos propõe.