29 de novembro de 2006

NÃO VOU DE MODAS

Ia eu a caminho da casa a tiritar de frio para almoçar quando do outro lado da avenida me surge uma rapariga muito muito gira! Olhei e achei muito estranho... Botas super quentes, camisola de gola alta e para andar super agasalhada... Corsários super-curtos! Não sou de modas... Sempre estranhei os excessos da moda. Sempre me perguntei se justifica andar a tremer de frio para mostrar a bela da perninha e proclamar ao mundo o "Eu sou muito boa" que já era óbvio...
Porque em termos de psico-sexualidade essa é a primeira pergunta a que respondemos quando olhamos para uma potencial parceira... "Será saudavel?" Fazemo-lo de forma inconsciente integrando em milésimas de segundo variadissimas informações como a simetria corporal ou a linguagem não verbal. É a fluidez não racionalizada desta avaliação que nos confere algum equilíbrio... Que dizer das recentes mortes por anorexia nervosa ou dos feeders que tem de usar um guindaste para ir à casa de banho.
O simples facto de respondermos a alguem em situação social pressupõe que este trabalho foi todo feito e que a pessoa em questão passou no crivo biológico. Contudo, ainda que inevitavelmente tenha de passar também por aqui, continuo a não conseguir ver uma mulher como um corpinho vazio.
A questão é bem mais complexa! Quantas raparigas não conheci que surgindo-me perfeitamente normais num primeiro contacto, tem aquela doce magia de se revelarem mais belas- a cada vez que nos cruzamos- na simplicidade de um sorriso apaixonado. Aquela beleza terrivel que não me fere de morte mas queima devagar e compromete-me irremediavelmente. Ou o inverso tão triste de me sentir escravo de um impulso corporal que me prende e não me deixa contemplar uma rapariga como um todo. E reparem que ainda nem fui a questão "E quando elas abrem a boca?" à qual estão associados todos os mitos e estereótipos das louras (e porque não das morenas também...) burras...
A sexualidade é indissociavel da nossa humanidade e exige de todos, para uma vida saudável, uma resposta contundente, profunda e verdadeira. Note-se que a própria castidade- muitas vezes interpretada como uma não sexualidade- proposta aos monges tibetanos ou aos sacerdotes católicos encerra para quem a escolha uma profunda auto-contemplação e compreensão da sua sexualidade. Como pergunta exigente que é, a sexualidade não pode nunca deixar de nos envolver num movimento uno, implicando sempre corpo e alma.
Não digo que a estética não seja importante... É crucial! Contudo representa só uma parte da questão. Lia à dias numa revista de grande tiragem uma citação de Paul Valery, filósofo francês, que dizia "Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir". Só agora vi porque ficou a ressoar na minha cabeça. Para perceber que foi isso que faltou àquela rapariga.