24 de novembro de 2006

COM(UNIDADE)

Espanta-me muito a falta de cumplicidade que existe entre as pessoas. A não ingerência grassa entre nós e refugia-se num "É a vida dele, faz dela o que quiser!" descomprometido e cobarde.

Perguntava ontem a um rapazito de treze anos se fumar fazia mal ao que ele disse sem pensar "Claro que sim!". Mas logo a seguir, quando lhe perguntei se emprestava cinquenta centimos para um amigo comprar tabaco respondeu prontamente "Sim! A vida é dele! Faz dela o que quiser!". Tudo isto me pareceu na altura muito incongruente. Não me parece correcto considerar uma coisa errada e ao mesmo tempo promovê-la refugiando-me numa não ingerência justificada por uma suposta liberdade que tudo consente.

Mais grave é perceber que esta situação não se restringe às opções tomadas na esfera intima e pessoal. Que dizer dos milhares de pessoas que se queixam que o Estado não faz nada e é inoperante, para logo a seguir se descomprometerem deste nosso Estado recusando-se a pagar impostos ou falhando no civismo básico que a todos é justamente exigido. Que dizer da falta de associativismo. Não será tudo isto uma não ingerência subtilmente instalada nos nossos intimos.

Custa-me muito ouvir um não... Custa-me mesmo muito quando esse não vem de um amigo de quem gosto mesmo muito... Percebo isto e sinto-o na pele. Contudo, já não vejo as amizades como quando tinha dezasseis anos, em que só era amigo quem era "cool" e respondia ou era cumplice dos meus desejos sem vacilar.

Urge aprender a reconhecer a individualidade de quem nos rodeia; perceber que a sua (também nossa) e a nossa (também sua) vidas são unicas, irrepetíveis e vividas em com(unidade). Reaprender o valor do não sincero e pedagógico que vem de quem gosta de nós bem como ganhar coragem de saber dizer não se tal for necessário. Perceber que ser cumplice é, sendo fiel à nossa consciência, agarrar logo a mão de quem se atira a um poço sem fundo para não ter mais tarde que o resgatar do fundo de um poço que as vezes parece não ter retorno. Mesmo que nos custe e sobretudo quando nos custar!