27 de novembro de 2006

CASA

Consta que sou caseiro. Que em pequenito o meu irmão corria para a porta quando os meus pais iam passear e eu corria para o quente dos cobertores a ver desenhos animados. A minha memória também me diz que era assim portanto deveria ser mesmo caseiro. Ainda hoje o sou. Adoro o calor dos cobertores nas noites frias e o conforto de escutar as gotas da chuva nos vidros cinzentos das janelas.

"Onde está a tua casa?" Perguntou-me a minha consciência num daqueles dias em que nem tudo corria bem... Caiu-me tudo diante dos pés... Naquele dia não tinha ponto de fuga nem porto seguro. A vida chamava-me a voos mais altos e sentia-me o pardalito que em queda livre do ninho aprendia por sua conta e risco a voar.

Desesperado cai... cai... e cai mais um pouco! Lembrei-me dos outros pardalitos que contavam que há muito tempo um pardalito se tinha estatelado no chão... Tive medo! Amaldiçoei a altura a que os meus pais colocaram o meu ninho... (nem me apercebi que foi a segurança da altura e as minhocas que me foram colocadas no bico que me fizeram crescer)

E fui caindo... E aos poucos, no precipício da queda, o Vento foi tomando conta de mim... Como que senti o Seu abraço e apelo incessante a confiar e a espreguiçar-me no Seu conforto. Sem saber ao que ia estendi as asas.

Tinha asinhas pequenas... Mas lembro-me como se fosse ontem. Assim que as estendi encheram-se de força, o Vento sustentava-as... E suspenso no eter percebi! A queda não era para a morte! Percebi a transitoriedade confortável do meu ninho... Percebi que esta seria a partir daquele dia a minha casa, o infinito do céu...

"Onde está a tua casa?" - repetiu-me a consciencia acordando-me do meu delírio... E eu sorrindo respondi-lhe "Nas asas do sonho! A minha casa está junto daqueles que, me desafiando, me fazem rir e chorar! No conforto dos limites do meu ser e nesta certeza de que na minha queda o Vento me fará voar!"