2 de junho de 2007

IN MEMORIAM

Obrigado...

Numa destas noites partiste...

Nas entrelinhas do colega que te acorreu naquela tarde sente-se bem a tua vida a fugir-nos por entre os dedos. E eu, naquela manhã, apesar de um daqueles pressentimentos do fundo da barriga, mal me tinha apercebido. E naquela noite, o frio que senti na alma e que só mais tarde a ti associei, sufoquei-o naquela sublimação própria do incrédulo que não reconhece o que não percebe.

É diante da penumbra da morte que somos confrontados com a eternidade da vida. O silêncio é demasiado ensurdecedor para ser real... Sei que me lês algures, sei que me lias algures no fundo da minha alma antes mesmo que me desse ao trabalho de te escrever.

Por outro lado sabes bem que uma infima parte de mim mergulhou contigo naquela noite para a eternidade. Ambos sabemos que levas contigo o pouco que involuntariamente a vida me pediu que te desse. Sei também que um pouco de ti fica aqui comigo... Sei que, reconciliada com a vida que te foi dada, com as suas maravilhas e misérias, olhas cá para baixo com olhar renovado.

Acredito na tua eternidade. Não acredito em eterno repouso. Uma eternidade a dormir seria profundamente vazia de sentido, quem sabe, talvez o inferno. O bem aspira firmemente e dá-se alucinadamente pelo bem. Só se esgota na sua própria consumpção!

Por isso, ai de cima contempla e inquieta-te com o meu luto sorridente. Peço-te que nesta nova etapa da tua Vida, te inquietes com os que deixas para trás, que veles e lutes pela integridade dos nossos corações e rectidão dos nossos espíritos, neste perpetuar eterno do semear para que um dia alguem venha colher.

Que assim seja...