7 de novembro de 2006

JURAS

Somos constantemente desafiados a comprometermo-nos com a vida em actos públicos de fidelidade. No casamento, no assinar de documentos no cartório ou na simplicidade do beijo que estendemos a uma amiga e do abraço fraterno.

É difícil julgar os nossos gestos... Somos sempre ambiguos aos olhos dos outros e muitas vezes conseguimos ser ambiguos diante do mais profundo do nosso ser. Muitas vezes, no final do dia, não sei onde termina a bondade de um gesto partilhado e começa a hipocrisia que brota da necessidade de ter de o mostrar. Não só aos outros mas também a mim próprio.

Seria ingénuo- ou pior, hipócrita- se não reconhecesse que existiram, existem e existirão sempre atropelos às promessas que fazemos. De todas as formas e feitios: tanto os óbvios, punidos e sancionados, como aqueles que passam despercebidos; os praticados conscientemente e aqueles que decorrem da inconsciência do gesto praticado.

Sei contudo que me magoam muito os agradecimentos imerecidos e as conquistas fáceis nas quais não tive que me comprometer. Sei que tudo isto me magoa muito mais do que aquilo que a humildade de me saber falivel e o esforço de pedir perdão ou de consertar aquilo que estraguei possam exigir de mim.

Hoje quero redescobrir o valor das promessas. Quero convencer-me que no repetir de palavras quero ser menos hipócrita. Gostava que mais do que repetir palavras encontrasse nas juras que faço aspiração a gravar altruismo na minha alma. Porque sei que nas promessas se fundem o compromisso e o desafio profundo a ser mais e melhor.

Lembro-me de fazer dezoito anos. Tenho perfeita noção que não mudei de um dia para o outro- na véspera criança e no dia seguinte adulto. Sei que fui crescendo a cada dia que passou e que neste movimento importaram muito duas coisas, o meu desejo profundo de aspirar a coisas maiores e o caminhar cumplice de quem me rodeou. Quando a promessa se recobre de um formalismo óbvio, como seja a tomada de posse de um cargo público, creio que quem a assume não caminha sozinho diante do mundo, acompanham-no a tradição e exemplo daqueles que o precedem e a cumplicidade daqueles que dando testemunho com ele caminham naquele percurso. Gostava de saber transpor esta consciencia para as minhas promessas veladas.

E, diante das minhas promessas, sempre que a hipocrisia surgir espero que ela me magoe no mais profundo do meu ser e que eu tenha a humildade de a reconhecer e emendar. Porque se assim for estarei seguro de que será tão só mais um fiel de um compromisso que passo a passo se foi fazendo.