Choveu...
Aquela chuva que não é convidada, vem indiscreta e invade as nossas vidas. Quantos cinzentos prateados tem o céu nestes momentos. Sobretudo no final do dia, em que o sol se despede cansado e sonolento, com aquele fresquinho de outono que nos varre a espinha e faz estremecer.
E continua a gotejar, daquelas gotas que nas nuvens foram-se deixando estar; a dormir. Daquelas que por terem andado na ronha engordaram, chegando tarde, dispersas e sozinhas ao festival. Essas mesmas que deixam marcas na roupa e acumulam-se na pele curtida pelos dias de sol.
Sabem bem estes finais de dia.
Conheces o cheiro da chuva?!
Aquele cheiro acre de pó limpo e assente, que numa inspiração profunda, ao entrar pelas tuas narinas te invade os pulmões num arrepio de medo e vitalidade?
Recordas-te do dia em que, criança, descobriste a cor do reflexo da lua nas poças de água? Aquele prateado com cheiro de chuva. É desse cheiro que te falo...
Aquele cheiro que te convida a te assumires frágil e pequeno, a ires para casa... embrulhado em cobertores com um copito de leite, recolhendo-te inocente nos pequenos nadas de vida.
Aquele cheiro ambiguo e estranho. Este cheiro cinzento-aprateado de esperança refrescante! De terra humida, de semente que encharcada, germina e cresce.
Ainda bem que neste por do sol de verão cheira a chuva... Cheira a vida.