30 de agosto de 2008

FIDELIDADE

Vais levar-me este doente!
E com ele a minha inocência...
E com ele as lágrimas que me vão correndo pela cara...

Pior...
Usaste-me;
Fizeste de mim anjo negro da morte:
Entrou pelo meu gabinete saudável,
Frágil, confiou em mim,
Vasculhei-lhe as entranhas,
Nas suas profundezas, reconheci-te mudo, cruel e indiferente.
E desconsolado
Tornei-me rosto de um prenuncio de morte.

Mas sabes...
Não me demoves... Detesto-te...
Perseguir-te-ei com todas as minhas forças,

E toda a tua maldade esgota-se e morre aqui!
Não me perturbas mais que isto.
Não me perturbaras mais que isto.
Não o consinto e nunca mais o consentirei...


Sim...
Levar-me-às esta alma um dia...


Mas ei de ta vender cara!:

Oxalá a cada dia que lhe sobre,
A minha magia de quimio e morfina
Lhe conceda, confortável, um sorriso tenaz e impertinente

E, a mim...
Neste papel de testemunha por vezes tão impotente
esta fidelidade resoluta e risonha de a cada dia
na eminencia de poder mesmo ser o último
Vivê-lo, esplêndido, como se fosse o primeiro!

6 de agosto de 2008

ELOGIO À MELANCIA

Gosto do teu sabor doce avermelhado, de água fresca temperado.


E nas tantas gentilezas que, contigo, a vida me vai dando... Momentos de nada logo logo se tornam vidas encetadas; a viva voz, caminhos lentamente partilhados.


Num comer colorido de fugidias saladas, num sofrego beber de chá verde naquele princípio de tarde chorado.


Testemunhando, as luzes nocturnas das colinas da cidade sorriem, ora cintilando sobre as toscas tascas de bairro ora dançando sob a vista de cosmopolitas miradouros.


Momentos pelas salinas e pelo mar suavemente salgados, no areal pelo sol de verão ternamente fumados. Notas cantadas pela sardinha, naquela voz arrastada de fadista matrona em azeite embebedada.


E às grainhas, que dos nossos sonhos dispersamente vamos semeando, de pança cheia mas com a saudade desconsolado, o meu bom dia!

Num simpático e terno muito obrigado!

4 de agosto de 2008

CONTINUIDADE

Novos paradigmas na vida...
Novos desafios de crescimento!
Inovar? Sim!, com certeza...
Mas nunca chamar de bom àquilo que é mau nem tão pouco mau àquilo que é bom...
Por isso, tentar sempre ser fiel aos mesmos princípios!
Crescer na continuidade!
Reconhecer o apelo à docilidade diante da vida!
Era docil diante do estudo nas vésperas dos exames;
Quero ser docil diante do trabalho nas infinitas horas de banco.
Sem mas, sem amuos, sem indisposições, sem fitas.
Tudo fazer como se a vida dependesse de mim!
Porque a vida é um bem finito e precioso! Muito curta para se perder tempo no supérfulo da maldade e da maledicência...
Porque se me demitir da minha vida quem a viverá por mim?
Reconhecer que muito pouco depende de mim e dos meus méritos!
Ter ficado boqueaberto pelas notas que me colocaram um dia em medicina e desatar a dar graças a Deus.
Procurar nos próximos dias maravilhar-me com os milagres que seguramente a vida me colocará diante dos olhos... Porque medicina, aos meus olhos, será sempre paliar e confortar e curar permanecerá um mistério fantástico que em muito me transcenderá e alegrará.
Procurar mais perdoar e acolher do que magoar e exigir!
Seremos sempre uns para os outro...
Mas assim como somos...
Antigos colegas de faculdade; novos médicos, enfermeiras e pessoal administrativo.
Pequenos tissões de perfeição envoltos em cinza de maldade.
Não tenho como me maravilhar com o rubor da tua (minha) perfeição se não souber soprar primeiro a cinza da tua (minha) maldade.
Teimar em relativizar o resultado diante do percurso!
Nem sempre o consegui fazer, mas sempre que o fiz fui muito feliz.
Na alegria de bem fazer, não tanto por aquilo que se consegue, mas sobretudo pelo gozo que dá ao ser feito.
Na segurança de saber pela experiência que percursos correctos geram, por norma, bons resultados.
Negar o meu apelo ao perfeccionismo e egoismo!
Porque teimará em ser tão falta de caracter desprezar hoje as minhas horas de ócio e descanso- aquelas que pertencem àqueles que amo- como o foi outrora, naqueles dias em que nem sempre soube prescindir do superfulo vazio de sentido que me oprimia no meu trabalho.
E sobretudo acreditar, nas dúvidas, que és Tu, meu Deus, que vens ao meu encontro, que me amas primeiro e que me conduzes