7 de junho de 2007

A LUZ DO DIA

Como seria bom ser capaz de trazer à luz do dia o mais profundo dos meus sub-mundos. De ser capaz de mostrar transparente a rotura e o vazio dos meus erros e, fugindo ao receio daquilo que se possa dizer, permitir-te (permitir-me) ver que também nisto somos tão iguais.

Uma das minhas (nossas) grandes ilusões é a consciência segredar-me preversa o hino da solidão! Quando mais precisamos, pela fragilidade em que nos lançamos com os nossos gestos, de ouvir-nos consoladores connosco próprios, logo vem o "Devias ter vergonha, só tu é que fazes isso" numa censura que encerra em si mesma a maior maldade que se possa ter para consigo próprio.

E esta mordaça de silêncio que a todos nos envolve, precipitando-nos desamparados sobre as nossas feridas dá voz aqueles que, como mortos, se consolam e vangloriam com nadas, desfigurando esta terra de sonho e alegria.

Sabes consciência... Vais ter de mudar... As pessoas à tua volta não são parvas! Não te iludas nessa soberba de acreditares que és senhora de ti própria. Que ages discreta contando com a indiferença do mundo!

O mundo não te é indiferente! Às pessoas, basta que olhem um instante para o mais profundo de si próprias, basta que enxerguem corajosamente cada uma das suas preversões- chamemos-lhes antes fragilidades se a nossa hipocrisia nos incomodar- e as dores que lhes causam para que em ti reconheçam a morte que teima em graçar e por ti se encham de compaixão.

Sabes consciência... Vais ter de mudar... Logo à noite, naquela qualquer noite que é o tempo que escolhes para me provares... Nesse momento de desespero uma nova luz irradiará... Saberei que diante de ti não estarei sozinho.

Saberei que, algures noutra noite, alguem estará comigo neste combate, suportando-se à sua solidão e ao seu desejo de si próprio conhecendo o esforço que terei de fazer para me suportar, na minha solidão, ao desejo de mim próprio.

E deste conhecimento de descaminhos (que o orgulho de ti que me lês teimará talvez em recusar reconhecer como) partilhados, na transparência de fragilidades comungadas... Ainda que alguns me chamem de imprudente e louco... Ai renascerá o sonho, a Fé e a Esperança próprios de quem, moribundo, ousa amar a vida, levantar-se e andar!