20 de setembro de 2007

SETE COISAS

Não sou muito de escrever a pedido...
Mas pediram-me e aceito....

7 Brinquedos que nunca tive
1. Uma casa na árvore (porque sou um bicho urbano, nao havia muitas árvores onde a colocar)
2. Uma fisga (para atirar aos passaritos)
3. Uma trotinete (também nunca lhe achei muita piada)
4. Aquela coisa parva chamada diabolo (sim aquela coisa com corda que se fazia girar no recreio e atirava-se ao ar)... Ainda bem que nunca o tive
5. Uma prancha de surf


7 lembranças vergonhosas de infância
1. Num jogo de futebol entre miudos atirar a bola para cima de um dos edifícios da escola (deu cá uma bronca entre amigos...)
2. Fugir-me o copo de wisky da mão na festa dos meus 18 anos ao cumprimentar com os meus pais um dos seus amigos (mas como ninguem levou a mal)
3. A vergonheira colectiva que foi o jantar de turma depois de passarmos todos a anatomia (esta deve ser das piores porque deixa saudades)
4. As inumeras gafes próprias de quem tem a língua perto do coração- corrigir adultos, responder insolentemente a professores, etc, etc


7 lembranças dolorosas de infância
1. Passar o verão dos 16 anos fechado na cidade a fazer fisioterapia depois do entorse que fiz numa prova de esgrima (deu para ler o senhor dos aneis).
2. Chumbar na passagem de cinturão no karaté.
3. Chegar sistemáticamente atrasado às aulas na escola primária à conta de terceiros.
4. Ser assaltado no metro dos restauradores, pedir ajuda, ser abordado por alguem que passava e correr tudo mal porque pensou que estivesse integrado no grupo.

E chuto a bola para Shara, Mané e Malu

PACIÊNCIA

Há dias, há semanas em que o relógio me prega uma partida e instáveis, os seus ponteiros me torturam a cabeça. Ora porque correm depressa demais e a noite chega antes da hora, ora porque correm muito devagar e me fazem sentir perdido na sua indolência.

Perco o meu fio condutor! Em simultâneo as horas passam infindaveis na expectativa de algo que não virá como logo a seguir me falta o tempo- este mesmo tempo que em nadas acabei de gastar- para responder as solicitações que a vida me vai propondo.

E neste desnorte caóticamente cadenciado passam-se dias, semanas, vidas...

Preciso mesmo de paciência!

15 de setembro de 2007

AQUELE OLHAR

Surpreende-me sempre, quando me cruzo na rua com um carrinho de bébé, o olhar com que sou confrontado. Aquele olhar absorto e absorvente próprio de quem descobre o mundo. Aquele que seguramente terá sido também o meu, o teu primeiro olhar...

Surpreende-me ainda mais, quando chegando a casa faço o exercício de o comparar com este olhar que o espelho me devolve. Dou comigo inconformado a perguntar-me em que curva da vida terei deixado para trás o seu brilho.

Há quem diga que no meu caso o brilho continua lá... Mas diante das evidências não me convencem... Aqueles olhares dos bébés brilham muito mais!! Diante deles, da perspicácia e alegria que a sua inocência lhes confere sinto-me como o velho cujas cataratas turvam a vista cansada...

E sinto tanta falta dessa inocência perdida...

Desta inocência que a cada dia procuro e tento reencontrar!

Porque creio que os ideais que verdadeiramente resultam nunca são os que pretendem mudar o mundo para o qual se olha, serão sobretudo aqueles que tem a ousadia de ver este mundo com outros olhos.

7 de setembro de 2007

O PICAR DO PONTO

Tenho feito um esforço cada vez maior por redescobrir as banalidades da vida. Aquelas coisinhas tão pequeninas e rotineiras a que nunca damos o seu valor e que, orgulhosos, justificamos com um hipócrita " picar o ponto".

O picar do ponto de me lembrar das pessoas que me rodeiam. Visitar os meus familires afastados, nem que seja para lhes contar as mesmas coisas que eles já souberam pelos nossos pais, disciplinar-me em saber notícias daquele amigo de infância submerso no seu novo trabalho e nos projectos do seu casamento, aturar as lamurias vãs do colega de trabalho que todos os dias vem para cima de mim com a mesma conversa.

O picar do ponto de acolher a simpatia daqueles que me amam. Receber aquele sms que todos os dias me bate à porta e a que só dou valor no dia em que não chegou. Mobilizar-me estafado no entardecer de sexta-feira para ir ao bairro alto picar este ponto de num par de horas rever aqueles amigos de faculdade que de passagem por Lisboa a caminho da viagem de férias me ligam em cima da hora a dizer que vão para a borga.

O picar do ponto de me deixar maravilhar com os pequenos eventos do quotidiano, de ir de férias e delas saber tirar partido, de redescobrir na água do banho de sábado a sua textura fluida ou no encharque da tempestade indesejada a sua frivolidade refrescante. De a cada chavena bebida a correr no bar do hospital tentar redescobrir o sabor do café e

O picar do ponto de reconhecer as singularidades infinitamente repetidas dos pequenos afectos sublimados nos rostos de quem nos rodeia. Ler o olhar de desespero da senhora que está à minha frente no autocarro no seu olhar sistemático para os ponteiros do relógio, reconhecer a felicidade da padeira que me vende o pão pelos movimentos com que empacota a minha encomenda ou a alegria camuflada nos passos dos adolescentes que, ao cruzarem-se comigo pela rua se descobrem e preparam-se para fazer juras de amor eterno.

Porque a vida é muito curta e demasido boa para que eu me demita de teimar em querer picar o ponto... Hoje pergunto-te... Porque continuas aí. De certeza que te lembraste do ponto que há uns dias tens evitado picar... Levanta-te, mexe-te! PICA!!!!

6 de setembro de 2007

GIRASSOL

Gosto muito de pessoas girrassois...

Daquelas que em tudo teimam em procurar a luz e o calor do sol. Indiferentes às intemperies, às nuvens e às tantas contrariedades de terem raizes agarradas à terra. Daquelas pessoas que sorridentes teimam em virar o seu rosto para o alto para depois, resplandescentes, reflectirem o tanto que acolhem em mil tons de amarelo.

São essas pessoas mesmo... Aquelas com que aleatoriamente nos cruzamos no nosso dia-a-dia e que num daqueles "não sei quês" tão próprios da vida nos tocam indolentemente na alma.

Todas aquelas pessoas a que, pela sua natureza desapegada, só sabemos dar valor quando depois de lhes virarmos costas pensamos para connosco "Ela tinha um sorriso especial".

4 de setembro de 2007

SOZINHOS

Um dia de banco em obstetrícia e um mar de lágrimas...

Chorar pelo estágio de medicina que deixo para trás, que (quem me conhece bem sabe) tanto me fez refilar mas que no fundo, no fundo percebo-o agora tanto amei.

Pela J. ou talvez A. ou M., (não me recordo do nome, apenas do rosto) que sozinha, desamparada (ou talvez mal amparada) fez (quem sabe?? "mais") um aborto de vão de escada e me entrou pelo serviço a esvair-se em sangue.

Pelo sem nome, que sozinho e com poucas semanas, vira pelo ecografo poucos minutos antes, na barriga da sua mãe e que por vontade dela é bem provavel que neste momento se despeça desta vida.

Pela mãe do sem nome, que pois claro sozinha, com o sofrimento estampado no rosto, me parecia procurar respostas que (na nossa objecção de consciência e penuria de outras soluções) não soubemos dar a perguntas que (de certeza) nunca quis fazer.

E por mim... Que me senti terrivelmente só e impotente diante destes rostos de tanta miséria... Porque há situações que, infelizmente, não vem nos tratados de medicina, não se tratam com comprimidos nem se curam atrás de um estetoscópio...